quarta-feira, 22 de junho de 2016

4º Capitulo

Era agora ou nunca. Já era tarde da noite, nem fazia ideia das horas quando deixei minhas malas no chão da rodoviária e contei o pouco de dinheiro que ainda restou da viagem, para ver se dava para pegar um táxi e chegar no endereço da pensão. Vi um táxi parar e descer umas pessoas, e enquanto o taxista tirava as malas daquelas pessoas, fui o perguntar o preço da corrida.

-Moço?
-Diga
-Quanto o senhor cobra para me deixar nesse endereço?-o mostrei o papel onde estava anotado o endereço
-Fica R$ 250, 00, é praticamente do outro lado da cidade
-Obrigada então, desculpa qualquer coisa

Nunca imaginei que seria tão caro assim, o duro que eu tinha somente R$ 50,00 que sobraram, e eu não conhecia nada de São Paulo, não sabia se tinha algum ônibus que me levaria até lá, ou alguma forma mais barata de chegar ali. Vi que o taxista já estava terminando de tirar as malas das pessoas que ele levou ali, e então fui outra vez o questionar.

-Moço?
-Diga-disse fechando o porta malas
-Com R$ 50,00, até onde o senhor pode me levar?
-Até perto de Alphaville
-Demora muito desse Alphaville até chegar no meu endereço?
-Claro que demora-disse rindo-não conhece São Paulo?
-Não, eu to super perdida, eu morava numa cidadezinha do interior e consegui uma bolsa de estudos aqui
-Entendo moça, mas eu não posso te levar até esse endereço de graça-disse me olhando de um jeito estranho
-Então me leva até lá, que prometo te pagar o restante depois, é só me procurar
-Ta achando que é fácil assim?-o homem riu-se quiser que eu te leve até algum lugar decide logo, pois cada minuto que fico de conversa fiada eu to perdendo corrida e dinheiro

Eu não conhecia nada ali, e como a essa hora não iria arrumar nada mais barato pra chegar até lá, decidi entrar no táxi e seguir com o cara. São Paulo era uma cidade muito barulhenta, o transito não parava, era cheia de luzes e pessoas, eu estava deslumbrada vendo a cidade pela janela do carro. Depois de um tempo andando, o taxista parou o carro, num lugar bem tranquilo e calmo, sem quase nenhum movimento, eu me assustei um pouco, mas decidi não ter medo.

-Chegamos moça, se vai pagar só R$ 50,00 desce aqui
-Aonde é aqui?
-Alphaville
-Poxa moço, serio que não tem como me ajudar e me levar até o endereço que preciso?
-Levar eu levo, mas tudo tem um preço-disse me olhando pelo retrovisor
-Prefiro descer aqui-disse já com medo do olhar dele, fui o entregar o dinheiro e ele segurou minha mão
-Se quiser te levo a outro lugar gracinha, e depois te deixo aonde quiser
-Não precisa moço, eu desço aqui-disse tentando me soltar dele
-Qual é gracinha, você não conhece São Paulo, aqui é um lugar perigoso, e não tem hotel nem nada para passar a noite por perto, então vem comigo-disse me puxando pra frente aos poucos
-Não, eu me viro, me solta e me deixa em paz-disse tentando me soltar dele
-Que mal agradecida, eu te trouxe até aqui e você nem pra me agradecer?
-Eu já te dei o dinheiro, era isso o que queria não era? então me deixa aqui, que eu me viro
-Certeza gracinha?-disse trancando o carro e abrindo o zíper de sua calça
-Moço, me deixa sair, por favor-já comecei a me desesperar
-Relaxa gracinha-disse ele passando para o banco de trás do carro

Eu não sabia o que fazer, não sabia se gritava, se chorava, e outra vez aquela cena me vinha na cabeça, eu tentava o empurrar, mas ele era mais forte que eu e...

-Acorda, Kemy, acorda-sentia alguem me cutucar quando consigo despertar daquele pesadelo horrível-meu Deus o que houve? porque estava chorando?
-Foi horrível-apenas a abracei
-Calma Kemy, seus gritos devem ter acordado todo mundo-disse dona Sonia, e vi as pessoas do ônibus me olhando feio
-Desculpa-disse tentando me acalmar-essa vida em São Paulo é muito incerta, tô com tanto medo
-Calma Kemy, vai dar tudo certo, já estamos quase chegando em São Paulo, e minha irmã já vai estar nos esperando na rodoviária, talvez isso seja só o medo e a saudade de ficar longe da sua casa, da sua família, mas vai dar tudo certo, eu não investi em você atoa

Dona Sonia era minha professora de Literatura do ensino médio, e ela era como uma mãe pra mim, os meus colegas sempre diziam que eu era puxa saco dela, porque sempre tirava 10 e ficava nas horas do intervalo conversando com ela, é que eles não tinham a mesma vontade que eu em aprender, e nem se importavam em querer trocar ideias com os professores, mas eu sempre fui muito dedicada, eu sempre quis dar o melhor de mim, para que no futuro tivesse uma profissão, e pudesse ajudar minha família, ajudar na doença do meu pai, eu queria ter condições de fazer de tudo por eles, pois eles mesmo não tendo nada faziam de tudo por mim. No ano passado, o ultimo ano do ensino médio eu criei um laço de amizade muito forte com dona Sonia, e me abri com ela, em relação a ter que encerrar meus sonhos ali pois não tinha condições de fazer uma faculdade, quando ela decidiu me ajudar sem eu mesma saber, ela me inscreveu para concorrer uma bolsa na melhor das melhores faculdades de São Paulo, e graças a Deus eu consegui passar em primeiro lugar e ganhar uma bolsa integral do curso que tanto sonhava fazer, quando ela viu o resultado me contou tudo o que tinha feito, e me disse pra ficar tranquila pois já tinha tudo planejado para me ajudar, eu iria morar na pensão de uma irmã dela, e ela até deixou pago alguns meses adiantados pra mim, ela realmente era mais que uma professora, era um anjo na minha vida.

-Bem vinda a São Paulo Kemilly-disse dona Sonia assim que descemos do ônibus
-Pois é-disse respirando fundo e vendo tudo ao meu redor-quanta gente, quanto movimento
-Sonia, minha irmã-disse uma mulher vindo a abraçar, provavelmente era essa a dona da pensão que eu iria ficar
-Roberta, que saudades minha irmã-disse dona Sonia abraçada a mulher-essa daqui é a menina que te falei, a Kemilly-disse me apresentando
-Oi Kemilly, seja bem vinda, eu sou a Roberta-disse me dando um caloroso abraço
-Olá dona Roberta, prazer conhece-la, e obrigada por me acolher
-Não precisa agradecer querida, pode ter certeza que todos da pensão vão receber você bem
-É o que espero-disse sorrindo de canto
-Mas chega de papo, vamos pegar nossas malas e ir logo para a pensão, porque a fome ta batendo-disse dona Sonia
-Vamos logo, que hoje o almoço vai ser especial-disse dona Roberta

Pegamos nossas malas, e colocamos no carro da dona Roberta, e enquanto seguíamos para a pensão elas iam conversando mais que a boca, e eu apenas ria dos assuntos das duas. Era um pouco longe, mas chegamos bem, assim que entramos fomos recebidas com abraços calorosos por todos os hóspedes, que eram pessoas simples e educadas, de cara eu gostei do lugar, e das pessoas com quem iria conviver. Era em média 12 hospedes comigo agora, cada um tinha seu quarto, mas comiam e bebiam todos juntos.

-Espero que dê tudo certo pra você aqui Kemy-disse dona Sonia enquanto me ajudava guardar minhas roupas na pequena comoda do quarto que eu iria ficar
-Eu tambem, e te prometo que assim que me formar, eu vou te pagar tudo pelo o que fez por mim e...
-Kemy, eu já disse que não precisa, não quero um centavo seu, minha recompensa vai ser ver você se formar, eu não pude ter filhos, mas Deus colocou você na minha vida, e então o que não posso fazer por um filho meu, eu faço por você
-Obrigada por tudo mesmo-a abracei-quando voltar para Paraíso não esquece de dizer aos meus pais que cheguei bem, e diga pra minha mãe que sempre vou dar um jeito de ligar no orelhão lá perto de casa pra falar com ela
-Pode deixar Kemy, agora quem vai cuidar de seus pais sou eu, e em relação aos medicamentos do seu pai fica tranquila, que eu vou ta ali pra ajudar em tudo
-Eu queria muito eles aqui comigo-disse deixando minhas lágrimas escapar-mas mal tenho como me manter aqui, imagina eles, se viessem pra cá passaríamos fome, lá ainda a vizinhança ajuda com cestas básicas, e tem você que nunca deixa faltar o leite dos meus irmãos
-Eu volto depois de amanhã pra lá, fica tranquila, agora tenta descansar um pouco, porque amanhã vamos ver o que falta lá na faculdade
-Ok dona Sonia, descansa tambem
-Meio difícil-ela riu-vou colocar os assuntos em dia com minha irmã, e você descanse-assenti com a cabeça

Dona Sonia saiu do meu quarto, e eu me deitei na cama que seria minha agora, era meio dura, mas pelo menos eu tinha um lugar pra dormir, pensei em tudo o que estava acontecendo em minha vida ultimamente, e agradeci a Deus em pensamento por tudo o que tinha alcançado, aonde tinha chegado, e foi em meio a esses pensamentos de conquistas que o cansaço me venceu e acabei dormindo. 
No dia seguinte, como combinado dona Sonia me levou até a faculdade onde eu estudaria, fiquei deslumbrada só com a entrada do lugar, só via moças e rapazes bem vestidos, chegando em carros chiques, e sem contar como as pessoas ali falavam tudo corretamente e eram vestidas formalmente. Acertamos os papéis de minha matrícula, e assim que saímos dali tinha uma papelaria ali perto, onde dona Sonia fez questão de comprar meus cadernos, bolsa e tudo o que precisaria na faculdade, ela definitivamente era um anjo na minha vida. 
Uma semana se passou, e chegou o dia em que começaria minhas aulas, eu peguei bem cedo um ônibus que parava a três quarteirões da faculdade, e ainda meio perdida e olhando tudo em volta, logo cheguei outra vez na frente da faculdade, dessa vez respirei fundo, dei um sorriso e a adentrei, pois era ali o pontapé inicial do meu futuro, do futuro da minha família. Eu ainda andava meio perdida naqueles corredores, fui olhando os papéis colados no mural procurando achar a sala do meu curso, muitas pessoas ali faziam o mesmo, e algumas reparavam em mim e se esquivavam, talvez porque eu não era tão linda, tão arrumada como eles, mas eu estava ali para estudar, e não era essas pessoas que iriam me fazer sentir rebaixada.

-Que droga viu, além de estar nesse lugar horrível a sala de administração fica no ultimo andar, mato meu pai por isso-ouvi uma menina que estava ao meu lado olhando o mural reclamar e sair bufando

Vi que minha sala tambem era no ultimo andar, e como o elevador estava cheio e fizeram cara de nojo quando fui entrar, preferi ir de escada, e depois de soar a camisa, finalmente cheguei ao quinto andar da faculdade, e por sorte minha sala era a primeira do corredor. Respirei fundo, coloquei a mão na maçaneta da porta, e iria entrar ali confiante.

-Jornalismo, ai vou eu-disse abrindo a porta e entrando numa sala enorme onde todos pararam para me olhar entrar

Corri para a primeira mesa perto da mesa do professor, e evitei olhar para trás, apenas percebi cochichos sobre mim, mas se não gostarem de mim pelo o que sou, então sera somente eu e meu sonho, como sempre foi.

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Olá amores, bom nos três primeiros capitulos só tinha Luan e Nicole, então nesse resolvi contar um pouco da história da outra personagem, amanhã se der terá capitulos hehe, se estão gostando e querem que eu continue comentem ai, bjooooos








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