quinta-feira, 30 de junho de 2016

10º Capitulo

Eu senti muita pena de Kemilly, que mal olhou em minha cara e entrou no toalhete, eu não sabia o que fazer, então apenas a segui, e a vi chorar enquanto lavava o rosto.

-Kemilly, eu...-não sabia o que a dizer a vendo chorar
-Não precisa fingir que tem pena de mim-disse lavando a lente de seu óculos
-Eu não estou fingindo que tenho pena, eu só...
-Te agradeço muito por ter me ajudado aquele dia, longe dos seus amigos-disse pegando um papel de enxugar a mão a enxugando a lente de seus óculos-mas pode voltar lá com eles, pra comer e beber de graça, hoje vocês tem o direito de pedir o que quiserem e vão pagar nada
-Só não volta lá naquela mesa para os servir, eu já vou indo embora-disse totalmente mal com a situação
-De qualquer jeito eu não vou lá mesmo, eu fui demitida-disse colocando seu óculos em seu rosto ainda inchado de tanto chorar
-Calma, eu posso tentar conversar com sua patroa e...
-Nicole-ela me olhou nos olhos-você sabe muito bem que eles armaram pra cima de mim, e fui demitida injustamente por causa deles, se quiser realmente me ajudar me esquece, e faz que nem seus amigos, ignora minha existência-disse saindo da minha frente e me deixando sem saber o que fazer

Eu sabia que Kemy era inocente, ela foi a vitima disso tudo e ainda saiu prejudicada, eu já havia a humilhado tantas vezes junto com eles, e percebi que isso não era a coisa certa a se fazer, afinal ela nunca fez nada pra mim nem pra eles, e nunca abria a boca para reclamar das ofensas que sofria. Fiquei um pouco refletindo sobre esses últimos acontecimentos, e mesmo que eu perdesse meus amigos, eu teria feito a coisa certa.

-Boa noite, será que poderia conversar com a senhora?-disse entrando sem pedir na sala em que parecia ser da dona do local
-Claro, fique á vontade, se for mais alguma reclamação sobre a funcionária eu já a demiti, fica tranquila e...
-É realmente sobre ela que quero falar-disse a interrompendo-mas eu apenas vim dizer que aconteceu um mal entendido, e a culpa não foi dela
-Como assim?-a mulher me perguntou sem entender
-A sua funcionaria estava nos atendendo super bem, e eu...-pensei sobre como a dizer-eu coloquei aquelas baratas no prato-disse abaixando a cabeça, e tomando uma culpa que não era minha
-O que? mas porque fez isso?-a mulher me questionou espantada
-É que somos todos da mesma sala que ela, e eu inventei tudo isso, não a demite por favor, e olha não precisa dizer nada a ninguem da mesa, aqui está-disse tirando uma boa quantia de dinheiro da minha carteira-pra pagar tudo o que consumimos hoje
-Eu não sei o que pensar moça, eu não posso voltar atrás e a contratar, mas preciso pelo menos a pedir desculpas-disse a mulher tambem visivelmente mal com a situação
-Ela deve vir receber o acerto, então você a da em dobro, só lhe peço isso
-Eu a tinha dito que não pagaria o acerto, mas vou ver se ela ainda não foi embora e me desculpo com ela-disse a mulher se levantando-quer ficar aqui, ou prefere que eu não a diga nada?
-Estou envergonhada do que fiz, e quero pelo menos que ela saia sem nenhum constrangimento-disse me levantando-obrigada por me compreender e desculpas por minha infantilidade
-Pelo menos você foi sincera, e pode ficar tranquila que irei me desculpar com ela-disse a mulher sorrindo e retribui

Saí daquela sala me sentindo mais aliviada, e voltei até a mesa para pegar minha bolsa.

-Gente não tô me sentindo muito bem, preciso ir pra casa-disse os avisando
-Ta cedo Nick-disse Rebeca
-A noite ta só começando gata-disse Marcos rindo meio alterado
-É que to com uma dor de cabeça, e um pouco enjoada-disse fazendo cara de dor
-Enjoada é?-disse Érika rindo-ta gravida amiga?
-Não é gravidez não, é apenas enjoada de certas coisas que ando lidando ultimamente, preciso ir galera

Finalmente saí daquele lugar e respirei aliviada em meu carro, fiquei ali pensando e refletindo no que tinha feito hoje, e não estava arrependida, eu não sei o que estava acontecendo comigo, eu apenas me sentia bem por ter feito o certo, mas não estava ainda totalmente aliviada pelas vezes que humilhei a pobre Kemilly. Ainda distraída com meus pensamentos, a vejo sair da lanchonete de cabeça baixa e braços cruzados, parecia com um pouco de frio, não pensei duas vezes e desci do carro o mais depressa possível e fui correndo até ela.

-Kemilly?-a chamei a fazendo parar e me olhar
-O que quer Nicole?-perguntou ainda com uma cara de choro
-Queria me desculpar com você, e...
-Tudo bem Nicole, não precisa se desculpar, mas se era só isso eu preciso ir
-Eu...-não sabia mais o que a dizer-tudo bem, pode ir

Ela assentiu e saiu andando, voltei para o meu carro e como não tinha mais nada para fazer ali, segui para casa.

*Kemilly on.

Uns meses depois, e já estava de férias da faculdade, depois da humilhação que me fizeram passar na lanchonete que trabalhava, e a falsidade de Nicole fingindo se preocupar, evitei até olhar para eles do fundo que só riam da minha cara, e com certeza sabiam da minha demissão. Eu havia notado que Nicole ás vezes tentava se aproximar de mim ou falar comigo, mas sempre quando estava longe de seus amigos, e eu preferia evitar, até porque se seus amigos a vissem falando comigo, não cairia nada bem pra ela, que com certeza daria um jeito de me humilhar como da ultima vez. 

-Kemy, aonde vai tão cedo?-dona Roberta me questionava
-Preciso arrumar outro emprego dona Roberta, já te devo dois meses, e não quero que sua irmã fique pagando as despesas da minha família lá em Paraíso, nem os medicamentos do meu pai, eu vou aproveitar minhas férias e passar o dia procurando um emprego, não se preocupe comigo
-Tudo bem Kemy, você sabe que pode me pagar quando der, eu entendo sua situação, mas tome cuidado, pois São Paulo é muito perigoso
-Eu sei dona Roberta, mas preciso ir
-Vai com Deus, e vou estar torcendo pra uma porta de emprego se abrir pra você
-Obrigada, fica com Deus tambem, creio que logo irei encontrar algum

Firme e confiante, saí da pensão, e peguei o ônibus rumo ao centro da cidade, havia perguntado a algumas pessoas da pensão como iria andar ali, e eles me deram algumas referências, com tudo anotado em meu caderninho, e uma pasta cheia de currículos segui para um dia cansativo atrás de um emprego. Entreguei meu currículo em vários estabelecimentos, alguns apenas colocavam em cima de uma pia enorme junto de outros currículos, e outros me davam esperanças que se precisassem entrariam em contato comigo. Eu já estava cansada, não fazia noção das horas nem nada, estava com muita fome, então me sentei em um banco de uma pracinha, e fui contar o tanto de dinheiro que tinha, certamente aquilo não daria para comprar nada, talvez nem uma garrafa de água, pois era basicamente o dinheiro certo para eu pegar o ônibus e voltar para a pensão. Minha cabeça doía muito, minha garganta estava seca e estava um sol muito quente, então fiquei uns minutos descansando ali naquele banco e vendo o movimento de pessoas que passavam por ali. Ainda cansada, e meio tonta devido a fome, mas eu não podia ficar ali parada, então segui para o outro caminho que ainda não tinha ido entregar meus currículos. Minhas vistas não eram lá a melhor coisa, e com esse sol forte, e essa dor de cabeça só piorava tudo, estava vendo meio embaçado, e precisava atravessar a rua, não percebi que vinha vindo um carro, e só escutei a freada brusca, e senti a lata quente do carro encostar em minha perna.

-Moça tudo bem? se machucou?-uma mulher que nem vi direito como era desceu correndo do carro e veio até mim
-Tudo bem sim-disse sentindo só um pouco de dor devido a batida em minha perna
-Tem certeza? me desculpa mesmo, eu estava distraída com o celular, nem vi você atravessar
-Tudo bem, eu que fui atravessar na hora errada

Os outros carros que estavam atrás começaram a buzinar, e xingar.

-Nossa, agora empaquei o transito, vem comigo mocinha, preciso te levar para o hospital
-Não precisa, eu...
-Nada disso, vem comigo

A mulher era insistente, então acabei entrando no carro dela, e ela realmente me levou a um hospital, onde fizeram alguns exames, e constataram que minha pressão estava baixa, e o médico que me atendeu disse que eu estava com anemia, devido a palidez, e o amarelo em volta de meus olhos, além de me fazer perguntas se eu estava sentindo fraqueza, tontura, cansaço, e eu respondia que sim. Era pra mim ter ido só olhar a perna que bati, e acabei fazendo exames de anemia, a mulher que me levou ali ficou o tempo todo no celular, e eu ainda meio tonta mal entendia o que ela falava por falar muito rápido.

-Olha muito obrigada por ter me trazido aqui, mas eu não tenho condições de pagar esses exames-disse a mulher assim que o médico saiu da sala e ela me olhou
-Eu que te atropelei, nada mais justo que eu pague sua consulta e seus exames, pode ficar tranquila moça, que eu ainda não sei o nome-disse rindo
-Kemilly-disse a estendendo a mão
-Paola-disse pegando em minha mão e me olhando-posso te pedir uma coisa?-dizia ainda vidrada em mim
-O que?-perguntei assustada com o jeito que ela me olhava
-Tira esse óculos, só pra mim ver uma coisa
-Mas pra que?
-Só tira

Ainda sem entender, tirei meus óculos e era horrível ficar sem eles, enxergava tudo embaçado, então fui o colocar de volta e ela não deixou.

-Espera, e deixa eu fazer uma coisa-disse soltando meu cabelo do meu coque e jogando meus cabelos de um jeito que não entendi
-O que está fazendo?-perguntei sem entender
-Calma-disse num tom de felicidade-ta linda, ta perfeita-disse parecendo que olhando para meu rosto, pois via mais ou menos a mulher na minha frente
-Olha, não sei o que está fazendo, mas eu não sou bonita, eu...
-Você não é bonita, você é linda, menina porque não te achei antes-dizia toda feliz
-Não to entendendo-disse já constrangida com tantos elogios
-É que...
-Bom os resultados de seus exames saem amanhã-disse o médico entrando na sala e a interrompendo
-Ok Dr. amanhã a trago aqui para ver os resultados, e tenha boa tarde-disse Paola, e me fazendo levantar dali

Saímos do hospital, e eu ainda não estava entendendo nada, a mulher outra vez ficou pendurada no celular, e eu ali presa naquele carro sem nenhuma explicação, até que finalmente ela olha outra vez pra mim e desliga o celular.

-Então, Kemilly né?-eu assenti-vejo que você parece ser uma menina humilde, e não entende muito de moda, nem de se vestir bem-diz olhando pra mim e minhas roupas
-Eu sei disso, não precisa...
-Mas você tem uma beleza natural que é inexplicável-diz me interrompendo-seus olhos são naturalmente verdes, e seu cabelo é naturalmente loiro?
-Sim, eu nunca...
-Perfeito-disse batendo palminhas e ligando o carro-to atrasadíssima pra uma reunião, então vamos conversando durante o caminho
-Olha, obrigada pela ajuda, mesmo sem precisar, mas eu tenho que voltar lá no centro da cidade e...
-Depois você faz o que tem que fazer, e te deixo onde quiser, mas me responde uma pergunta, já pensou em ser modelo?-me perguntava enquanto dirigia
-Eu? modelo?-tive que rir-não sirvo pra essas coisas, nunca fui uma menina de me iludir com isso
-Mesmo se surgisse uma oportunidade de você ser modelo? alguma agência a contratar, ou...
-Olha senhorita Paola, você está sendo muito gentil comigo, mas eu não sirvo pra isso, eu não quero, não é esse meu objetivo na vida
-Kemilly, tudo bem que você acha que não leva jeito, mas é porque você nunca tentou, eu assim que bati o olho em você notei que tinha algo a mais, e quando você tirou o óculos e soltou o cabelo, vi que você tem futuro, e só ia precisar de uma consultória de como se arrumar, se vestir, pois sua beleza já é natural
-Prefiro não me iludir com isso, eu não nasci pra isso, eu sou feliz do jeito que eu sou
-Sinceramente, se eu tivesse uma agência eu daria uma chance pra você-disse me olhando-não quer nem tentar?
-Melhor não, eu...
-Nem se eu dissesse que sou agente de modelos, e estou a procura de uma para a nova campanha da agência que trabalho?
-Eu não sei-disse parando para pensar um pouco, eu estava atrás de um emprego, e mesmo sem entender nada dessas coisas de moda, ou de modelo, foi isso que me apareceu, o que custava tentar?
-Estou seguindo agora para a agência e se quiser, a chance está batendo na sua porta

Respirei fundo, e me lembrei que precisava pagar os meses de aluguel atrasado a dona Roberta, precisava mandar dinheiro para minha família, precisava ganhar alguma coisa para me manter em São Paulo.

-Mas se eu fizer esse teste e passar, eu vou ganhar alguma coisa?
-É lógico, além de fazer contrato de um ano com a revista, vai ganhar um ótimo salário, fora os cachês se alguma revista a quiser emprestada, e suas roupas, sapatos, assessórios, tudo vai ser por conta da agência
-Então eu vou ganhar bem?
-Se você souber controlar o que ganhar, vai se tornar muito bem de vida, então aceita fazer o teste?
-Sim-disse sem pensar muito, e tomara que eu não me arrependa por ter entrado na onda dessa tal Paola

Ela estacionou o carro em uma garagem enorme, e quando vi a faixada da tal agência fiquei boquiaberta, era muito linda, e já estava arrependida por ter aceitado, com certeza iriam rir de mim, uma moça pobre, que não entende nada de moda indo fazer um teste ali. Eu não estava confiante, e quando entramos ali e eu via as pessoas vestidas super bem, as mulheres de salto e alguns poucos homens de ternos e todos em trajes finos.

-Boa tarde Ramon-disse Paola me arrastando para uma sala e estava um homem sentado na frente de um computador
-Boa tarde Paola-a olhou, e me olhou-essa daí é a...
-Sim, é a moça que te falei que eu quase atropelei-disse rindo
-Boa tarde, qual seu nome-disse ele se levantando e vindo até mim
-Kemilly-disse um pouco constrangida devido ele começar me olhar de cima pra baixo e dar voltas por mim
-Sou o Ramon-disse por fim me olhando
-Ramon, eu a encontrei assim, mas agora veja no que podemos a lapidar-disse outra vez desprendendo meu cabelo-tire seu óculos querida Kemilly-mesmo receosa o tirei-viu só?
-Uaaal-ouvi o tal Ramon exclamar-na hora que ela entrou, eu já ia te bater achando que estava de graça com minha cara, mas vejo que realmente você sabe escolher bem
-Linda né? e os olhos, o cabelo é tudo natural, exatamente o que procuramos, uma beleza natural
-Sim Paola, me deixe aqui com a moça, e vai lá na reunião, porque a Cristina já deve ta soltando fogo porque a agente que escolhe as modelos dela ainda não chegou
-Eu sempre me viro com a patroa-disse rindo-mas agora vou lá, e fique aqui com nossa futura modelo

Coloquei outra vez meu óculos e vi Paola saindo da sala, e Ramon me encarando.

-Ela é meio louca né?-ele disse rindo
-Acho que sim-disse tambem rindo
-Mas vamos falar de você-disse vindo até mim e mexendo em meu cabelo-esse cabelão loiro é o sonho de muitas mulheres sabia? e você tem um tão lindo naturalmente, sem contar esses olhos verdes tão vibrantes
-Obrigada-disse sem jeito, nunca tinha recebido tantos elogios de pessoas desconhecidas em um único dia
-Agora a Paola está em uma reunião com a poderosa chefona, e mais algumas pessoas super importantes, e com certeza ela vai falar de você lá, então sente nessa cadeira-disse puxando uma cadeira pra mim, e sem jeito me sentei-vou dar um pequeno trato em você

Eu não sabia o que ele iria fazer, mas deixei, ele começou tirando o excesso de minhas sobrancelhas, e penteou o meu cabelo, o deixando de um jeito lindo que nunca vi, eu tava estranhando tudo isso, mas estava gostando de ser tratada assim, ainda mais por Ramon que era bom de papo e super gentil.

-Não posso lhe maquiar, nem fazer mais nada, queria muito, minha mão ta coçando pra arrumar mais você, mas não posso
-Tudo bem, mesmo assim obrigada-disse sorrindo amarelo, meio ainda sem entender o que acontecia comigo

Fiquei mais um pouco conversando com Ramon, e ele era muito hilário, me contava os podres das modelos que eu nem conhecia, e dizia que muitas modelos famosas já passaram pelas mãos dele. O celular dele apitou, devia ser alguma mensagem, e então ele se levantou, e me fez levantar.

-A reunião acabou, e a poderosa chefona, quer dizer a Cristina dona da agência está vindo ver você, então sorria, e tenha postura-dizia arrumando minha posição e dando mais uma ajeitada em meu cabelo

A porta se abriu, e estremeci, meu coração gelou, e eu pedia a Deus para que se fosse dar certo, que Ele me abençoasse.

-Então Cris, essa é a Kemilly, a moça que lhe falei que é a cara da nossa nova campanha-disse Paola toda sorridente acompanhada da mulher que me encarava com uma cara nada boa
-Essa ai?-disse apontando pra mim e me olhando de cima a baixo-já vi melhores Paola, eu pedi pra você me trazer uma modelo profissional, não uma pobretona, olha essa roupa, esse cabelo que parece que não é lavado a dias, além de ter a unha mal feita, a pele toda oleosa, prefiro não comentar o resto-disse me olhando com desdém-vou voltar pra minha sala, e trate de desinfectar essa criatura da minha agência-disse saindo dali, e eu respirei fundo para não chorar, acho que nessa vida eu só vim para ser humilhada, e os outros rirem na minha cara

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Olá amores, aos poucos vai entrando mais gente na história, talvez o romance que vocês tanto imaginam que vai acontecer irá demorar um pouco kkkkkkk, fico feliz em ver que tem gente gostando, então comentem ai quem ta acompanhando, bjooooooos <3







segunda-feira, 27 de junho de 2016

9º Capitulo

Devido a chuva não teve muito movimento na lanchonete àquela noite, então pude ir pra casa mais cedo, e por sorte na hora que saí do serviço não estava mais chovendo, só estava frio. Assim que cheguei na pensão vi dona Roberta ainda sem dormir e toda preocupada comigo, tive que a contar tudo o que aconteceu a deixando sem acreditar, e a fazendo prometer que diria nada a ninguém, eu sentia que podia confiar nela, assim como confiava em dona Sonia sua irmã. No dia seguinte, amanheceu ainda frio, mas sem chuva, eu estava sem meus materiais pois estavam na casa de Nicole e se ela não fosse hoje, eu teria de me virar para anotar em algum papel emprestado o que fosse dito na aula. Assim que cheguei na sala, vi minha mochila em cima da minha mesa, e minhas roupas e demais coisas todas ali dentro, olhei para Nicole e a vi no fundo conversando com seus amigos, tentei fazer algum sinal ao longe para a agradecer, mas ela nem devia ter notado que eu havia chegado. Na hora do intervalo, tentei esperar que Nicole passasse por mim para agradece-la, mas ela passou pelo outro lado rindo com seus amigos. Então segui para a biblioteca onde conferi como estavam minhas coisas, meu caderno estava com muitas páginas manchadas, o que me deixou triste, e por sorte vi que meu dinheiro estava intacto dentro de minha carteira que só molhou por fora. Voltei para a sala no horário da aula, e percebi que Nicole toda hora evitava olhar em minha direção, eu precisava falar com ela, para ver se ela se acertou com o Luan, e tambem precisava a agradecer.

-Nicole?-tive oportunidade de a ver somente na saída da faculdade
-Oi-me disse enquanto olhava para os lados-me desculpa mas tenho que ir-disse seguindo em frente e eu a parei
-Só queria lhe agradecer por...
-De nada, mas preciso ir-disse aumentando os passos e sumindo da minha vista

Umas semanas se passaram, e como eu havia recebido meu salário, acordei um pouco mais cedo e fui no banco depositar o dinheiro para os meus pais, desde o meu primeiro centavo que ganhei eu depositava na conta de dona Sonia quase todo o meu salário e ela usava esse dinheiro para as despesas da casa dos meus pais, e os remédios do meu pai. O que sobrava eu usava para pagar o ônibus, e a pensão, que era sempre a quantia certa, e se sobrava algum pouco a mais eu comprava livros, pois amava ler. Era um dia mais quente, e desse dia não podia passar, eu ainda precisava entregar a roupa que Nicole me emprestou, mas como sempre saia da pensão na correria eu acabava me esquecendo de levar, e hoje eu tinha me lembrado disso. 

-Nicole?-a chamei assim que ela ia saindo com os seus amigos para o intervalo, e ela e todos os outros pararam me olhando-desculpa a demora, mas ta aqui sua roupa, obrigada por ter me emprestado-a estendi a sacola que havia colocado suas roupas e todos os seus amigos a encaravam
-Nick anda emprestando roupas para a patinha feia?-disse a loira antipática
-Pra mim ninguem empresta-disse um dos caras rindo em tom de deboche
-Essa menina deve estar louca, nunca emprestei roupa pra ela, até parece que cabe algo meu nela-disse se defendendo e desacreditei que ela havia feito isso comigo-você deve ta me confundindo querida-me olhou com desfeita e saiu rindo com seus amigos

Nunca imaginei que ela pudesse ser tão duas caras assim, mas era pra mim aprender a não confiar tando na bondade das pessoas. Durante o resto da aula eu ouvia piadinhas relacionadas a mim vindas da turma do fundo, e fingia não ouvir para evitar mais humilhações. Assim que fui saindo da faculdade, estava distraída colocando o livro que peguei na biblioteca dentro de minha bolsa, até que me assusto com alguem buzinando e parando o carro perto de mim.

-Kemy, como cê ta muié?-assim que ouvi essa voz, reconheci que era Luan e sorri
-Oi Luan-disse tímida apenas acenando pra ele-to bem, e você?
-To bão-ele riu-sabe se a Nick já saiu? to esperando ela
-Deve ter saído sim-disse dando de ombros, e então me lembrei da humilhação que ela havia feito comigo-Luan?
-Fala Kemy-disse tirando seu óculos escuro do rosto e me olhando
-A roupa da Nicole que ela me emprestou aquele dia-disse tirando da minha bolsa e o entregando-obrigada
-De nada, mas cê podia ter entregado a ela, inclusive olha ela ai-disse apontando Nicole que estava ao meu lado toda sem graça-Nick ela devolveu sua roupa, cê mesma podia ter pegado
-Então né-ela disse toda constrangida entrando no carro, e esse era meu momento de o dizer o que realmente aconteceu
-Pois é Luan-disse olhando pra ela-mas é que mal temos tempo de nos falar na sala de aula-não iria dizer a ele que ela me humilhou, eu era melhor que isso, jamais pagaria o mal com o mal
-Entendi-ele disse rindo-mas e ai, quer carona?-me perguntou
-Não precisa-sorri de canto-mas foi bom te encontrar, preciso te entregar uma coisa-novamente abri minha bolsa, e por sorte a quantia que ele havia me emprestado aquele dia já estava separada, pois eu ia entregar a Nicole para o entregar, e acabou que não deu certo aquela hora-toma Luan, pode conferir, obrigada por ter me emprestado aquele dia-o estendi o dinheiro
-Pra que isso Kemy?-perguntou sem entender
-To te pagando o que me emprestou aquele dia-o estendi de novo
-Não precisa muié, pode guardar, você precisa mais que eu
-Minha mãe me ensinou que sempre devemos pagar quem nos ajudou, então aceite
-Eu não vou aceitar, pois eu te ajudei de coração e em momento algum vou cobrar de você
-Mas...-tentei o fazer aceitar de novo
-Guarda o seu dinheiro Kemy, e pode ir pra casa, nois se vê por ai

Nem deu tempo de o dizer tchau e ele saiu com o carro, guardei novamente o dinheiro e segui para o ponto de ônibus.

*Nicole on.

Após ver a cena de Kemilly tentando pagar o meu pai, e o devolvendo minha roupa eu me senti um monstro, fiz questão de a humilhar na frente dos meus amigos só para fingir que nunca tive nenhum contato com ela fora da faculdade, e me surpreendi mais ainda por ela não ter dito nada ao meu pai o que fiz com ela, me sentia muito envergonhada por isso.

-Ta pensativa?-meu pai me tirou de meus pensamentos
-Tava pensando umas coisas aqui
-Que coisas?
-Umas ai-disse respirando fundo-a Kemy é uma pessoa muito boa né pai, não precisava ter devolvido minha roupa
-Ela é humilde, mas sabe que o que é dos outros precisa ser devolvido
-Pois é

Chegamos em casa, e fui direto pro meu quarto dormir um pouco, estava cansada de acordar cedo todos os dias, mas acabei que nem dormi e fiquei conversando com meus amigos do watsapp, e rindo do que mandavam no grupo da faculdade.

-Nick?-ouvi uma voz de um pequeno me chamar e depois ouço uma risadinha
-Quem é?-perguntei fingindo não saber
-Alguem lindo, que você ama muito-o ouvi dizer e tive que rir

Corri para abrir a porta e vi dois sapecas entrar correndo e pulando no meu colo, era meus primos Matheus e Miguel, meus grudinhos.

-O que vocês fazem aqui pirralhos?
-A gente veio com a vó Marizete e o Vô Amarildo-disse Matheus o mais velho de 7 anos enquanto pulava na minha cama
-E o que vieram fazer aqui? folgado-o dei um tapa pra sair de minha cama e Miguel de 4 anos riu
-Viemos aqui ué-disse o óbvio
-Nick a vó trouxe bolo que ela comprou no mercado, eu que escolhi, é de chocolate-disse Miguel
-Nossa que novidade, a vó comprou bolo no mercado-ri dele-então vamos sair do meu quarto bando de pirralhos, e ir comer o bolo

Desci as escadas com eles, e logo vi meus avós sentados na sala conversando com meu pai.

-Benção vó, benção vô-fui os pedir benção e os dar um abraço
-Deus te abençoe-os dois disseram
-Tio vamos comer o bolo que minha vó comprou-disse Miguel cutucando meu pai
-Vamos então Miguelzinho-meu pai riu o pegando no colo, ele amava esses meninos

Meus avós e meus primos ficaram á tarde ali com a gente, e sempre me perguntavam as mesmas coisas, como vai a faculdade, tem algum gatinho de olho e essas chatices de avós. Meu pai tinha ido para seu escritório ler, e eu fiquei jogada no sofá da sala vendo um filme água com açúcar, e conversando no watsapp, na verdade estava mais concentrada nas conversas do grupo do que no filme. Começaram a combinar de sair e eu como amo uma festa logo topei, ficamos decidindo o lugar e eles escolheram ir tomar chopp na lanchonete perto da faculdade, combinamos o horário de chegar, e cada um foi se arrumar, bom pelo menos eu fui. Tomei um banho super relaxante na minha banheira, e depois de me secar, secar meu cabelo, coloquei meu roupão e entrei no meu closet onde não sabia decidir o que vestir. Eu não estava inspirada pra colocar um look de arrasar, então coloquei um mais básico, e nem caprichei no make, pois era só uma social com os amigos.


@santananick : Mais basiquinha hoje, partiu social com a galera 😉🍻

Postei uma foto em meu instagram, peguei minha bolsa de mão onde só cabia minha carteira e celular, e desci as escadas indo direto para o escritório do pai mais lindo do mundo.

-Oi paizinho lindo-disse entrando em seu escritório e ele nem me olhou pois parecia interessado em seu livro
-Fala Nick-disse finalmente me olhando
-Pai a galera combinou de ir na...
-E você já ta até arrumada né Nicole?-disse me olhando franzindo a testa
-Lógico-ri travessa-então posso ir?
-Vai, mas volta em casa cedo, porque amanhã você tem faculdade
-Eu sei-revirei os olhos-te amo paizinho lindo-fui até ele e lhe dei um beijo no rosto e sai

Eu amava quando saia sozinha com meu carro, eu não era de correr, mas amava dirigir, principalmente pra ir em festas. Cheguei na lanchonete que combinamos de ir e alguns já haviam chegado antes, e os outros não demoraram chegar. A risada foi completa quando Kemilly que era a garçonete dali foi nos atender, eu até ri pra os acompanhar, mas não estava me sentindo bem com isso. Pedimos uma rodada de chopp e petiscos, de entrada e ela não demorou nos servir, e nem quando a menina estava nos servindo eles paravam de fazer piadinhas em relação a ela. Estávamos bebendo, comendo e conversando, até que Érika inventa de pedir mais petiscos.

-GARÇONETE, FAZ FAVOR-diz gritando já meio alterada e os outros rindo
-Pois não-disse Kemy vindo até nossa mesa
-Quero mais petiscos
-Só isso?-perguntou anotando o pedido em um papel
-Trás tambem outra rodada de chopp pra nós garçonete-diz Marcos
-Ok-disse se retirando com os pedidos anotados

Não demorou até que ela apareceu com os petiscos, e depois com o chopp, percebi que enquanto ela nos servia o chopp, Érika abriu um potinho em cima dos petiscos e quando vi direito eram baratas.

-HAAAA CREDO TEM BARATAS AQUI-disse Érika gritando e subindo em cima da cadeira, o que fez os outros fazerem o mesmo
-Eu posso trocar e...
-NUNCA MAIS COMO NESSE LUGAR NOJENTO-dizia Érika fazendo o maior drama por causa das baratas
-Mas é só eu retirar o prato e...
-O que esta acontecendo aqui?-diz chegando ali uma mulher com o uniforme do local e olhando para Kemilly
-TEM BARATAS NOS PETISCOS, CREDO-diz Érika gritando
-Me desculpem o constrangimento-diz a mulher sem saber o que fazer-vamos trocar imediatamente e...
-EU NÃO QUERO NUNCA MAIS COMER AQUI, DEVE TER BARATA EM TUDO-Érica continuava com o drama
-Moça se quiser vocês não precisam pagar por nada, e nossa funcionária irá providenciar uma outra mesa pra vocês-diz olhando pra Kemilly que foi toda sem jeito pegar o prato de petiscos cheio de baratas
-Já foram embora essas nojentas?-diz Érika descendo da cadeira
-Sim moça, nos desculpe o ocorrido, tem algo que possamos fazer pra reparar? já disse que hoje a conta de vocês sai de graça
-Obrigada-Érika sorri sinica-é que a funcionária de vocês não gosta de mim, e deve ter feito isso de propósito, então desconte isso do salário dela
-Ok, deixe que irei tomar as providencias-disse a mulher se retirando dali e todos da mesa começaram a rir e aplaudir Érika
-Troféu melhor atriz já é seu-diz Marcos batendo palmas pra ela
-Eu sei-ela diz rindo-agora deu dó da garçonete, ainda bem que a Monica não veio, se não iria estragar a noite sendo a defensora da patinha feia
-Nem me fale, e até eu assustei achando que as baratas tinham vindo no prato mesmo-diz Rebeca
-Fui eu quem coloquei, um sustinho na garçonete, uma diversãozinha na noite sempre faz bem-diz Érika tomando mais um gole de seu chopp e ou outros não paravam de rir
-O que foi Nick?-Alan me pergunta me vendo séria em meio a eles
-Nada, acho que não me caiu bem esse chopp, preciso ir no toalhete-disse me levantando e indo rumo ao banheiro

Eles tinham passado dos limites, enquanto apenas falavam mal dela já estavam exagerando, mas vir no local que ela trabalha e fazer isso eu já achei exagero e maldade da parte deles, principalmente de Érika que sempre teve esse orgulho em humilhar os mais inferiores. Após respirar um pouco longe deles, retoquei meu batom, e fui saindo do toalhete quando ouço alguem gritando do outro lado de uma porta do corredor.

-Essa foi a ultima vez que você faz uma burrice, está demitida Kemilly
-Mas não fui eu...-ela dizia chorando
-Não interessa, sempre que acontece alguma coisa a culpa não é sua, eu te aceitei aqui porque achei que você seria capaz, mas me enganei, pode pegar suas coisas e sumir daqui, e nem seu acerto você vai receber porque foi descontado na conta dos clientes de hoje

Ouvi apenas choros, e logo que a porta se abriu vi a senhora sair para um lado, e Kemilly sair de cabeça baixa e chorando muito, quando ela ergueu a cabeça e me viu, não sabia o que se passava em seus olhos, se era raiva, tristeza, ou apenas a dor de mais uma humilhação.

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Olá amores, mais um capitulo ai, que situação em? espero que estejam gostando e quem estiver acompanhando comenta ai, bjooooooos

8º Capitulo

*Luan on.

Me surpreendi ao ver a atitude de Nicole em me fazer dar carona aquela moça, eu ainda não entendia o porque, mas depois que a vi entrar toda molhada e tremendo de frio em meu carro, eu tambem senti vontade de ajuda-la, ela me parecia uma garota diferente, indefesa, e o que eu pudesse fazer por ela, eu faria.

-Nick, já ta saindo?-perguntei batendo na porta do banheiro de Nicole
-Pode entrar pai, to na banheira

Entrei no banheiro, e a vi toda esticada na banheira, que saia até fumaça de tão quente.

-Filha se puder sai dai logo e separa uma roupa pra moça vestir
-Eu não vou sair daqui tão cedo-disse parecendo não se importar-mas pega qualquer coisa no meu closet, não sendo as roupas que estão com etiqueta qualquer outra pode
-Ta bom, mas depois não reclama se ela estiver vestida com algo que você goste

Nicole não disse mais nada então sai de seu banheiro e entrei em seu closet, até fiquei perdido vendo o tanto de roupas que aquela menina tinha, e a maioria eu nunca tinha visto ela usar, uma ou outra que eu já tinha visto, mas eu não estava ali pra ver o que Nicole mais usava ou deixava de usar, e sim procurar uma roupa que servisse na moça. Procurei em tudo quanto é canto daquele imenso closet, e achei um conjunto de moletom cinza, que provavelmente Nicole não devia gostar, e peguei uma calcinha rosa, achei meio pequena, mas infelizmente não tinha nenhuma peça maior que aquela. Entrei no quarto em que a moça tomava banho e escutei o chuveiro ligado, deixei a roupa em cima da cama e resolvi a avisar para quando ela saísse do banho, pudesse se vestir.

-MOÇA, QUANDO SAIR DO BANHO TEM UMA ROUPA PRA VOCÊ AQUI EM CIMA DA CAMA-tive que gritar pra ver se ela ouviria bem
-OK-me respondeu tambem gritando

Sai do quarto para que ela tivesse sua privacidade, e segui até a cozinha onde sentia um cheiro maravilhoso de bolo assando.

-Como cê adivinhou que eu ia pedir pra fazer um bolo hoje?-disse a Cida assim que a vi na cozinha
-Eu sei das coisas-ela disse rindo-é bolo de fubá como o senhor gosta
-Por isso te amo Cidoca-a abracei a deixando sem jeito-então enquanto o bolo não fica pronto faz um chocolate quente no capricho, mas faz bastante
-Pode deixar-disse ela indo pegar as coisas para fazer o que pedi
-Mas antes passa um pano na sala e nas escadas até onde está molhado
-Tudo bem-disse seguindo para o quartinho onde fica os produtos de limpeza e eu segui pra sala, onde liguei a TV colocando no canal de esportes que gostava

*Kemilly on.

Estava tomando um banho tão relaxante, quando ouço o homem gritar que tinha uma roupa pra mim em cima da cama, o respondi um "ok" e só ai me lembrei que estava na casa de outras pessoas, e não seria legal ficar a vida toda em baixo daquele chuveiro, mesmo sendo o mais gostoso que já tomei banho. Minha roupa molhada, a lavei no banheiro mesmo e coloquei para secar na beirada da banheira que estava seca, me enxuguei, e meio receosa abri a porta do banheiro, e vi que o quarto estava vazio. Corri e tranquei a porta para me certificar que ninguem entraria ali, e vi a roupa que separaram pra mim, era de um tecido muito gostoso, e com certeza era de marca cara, pois já tinha visto gente da faculdade usando uns parecidos, só não gostei daquela mini calcinha, nunca na vida usaria uma dessas, mas como a minha estava molhada, vesti aquela mesmo sendo super desconfortável. Me olhei diversas vezes no espelho do quarto, e ainda não acreditava que estava naquele lugar, vestindo aquela roupa, só ai me lembrei do rastro de água que tinha feito pela casa, então sai do quarto para ir atrás de um pano para limpar tudo aquilo. Me surpreendi ao ver tudo limpo, e fui descendo as escadas e vendo que tambem não tinha nada molhado ali, até que me assustei com o homem me encarando assim que cheguei na sala.

-Ficou bom em você-disse me olhando e eu não sabia o que dizer
-Ha sim, obrigada-disse sem graça
-Vai ficar ai parada muié? senta aqui no sofá-disse me apontando o sofá a sua frente e eu ainda desnorteada com tudo me sentei ali
-Olha, muito obrigada mesmo por tudo que fez por mim-o agradeci-mas assim que a chuva passar, me diga onde fica o ponto de ônibus mais proximo daqui, pra mim poder ir pra casa
-Aqui perto não tem ponto de ônibus não-ele riu-é mais fácil cê pegar um táxi
-E é caro?-perguntei sem nem saber se meu dinheiro estava inteiro devido o tanto de chuva que tomei
-Depende de onde cê precisa ir, ai fica mais caro, mas eu não ando de táxi, então nem sei-disse rindo e eu me senti uma idiota por estar peguntando isso a ele, que nunca deve ter precisado nem de um táxi na vida, imagina um ônibus-mas então como é seu nome mesmo? eu não sou bom pra guardar nomes-ele disse interrompendo meus pensamentos
-Kemilly, é meio dificil de guardar mesmo
-Ha sim, Kemilly, posso te chamar de Kemy?
-Pode, é assim que me chamam mesmo
-Então ta Kemy-ele riu dizendo meu nome-o que cê fazia perdida no meio da chuva aquela hora?-perguntou abaixando o volume da TV
-Eu tinha acabado de sair da faculdade, é que me mudei pra São Paulo pra vir estudar, então não conheço nada da cidade, só sei o caminho da pensão onde moro até a faculdade e meu serviço
-Que legal-ele disse parecendo interessado em conversar comigo-cê faz faculdade de que?
-Jornalismo, tô no primeiro ano
-Então cê deve ser da turma da Nicole, por isso ela te conheceu
-O que tem Nicole?-disse a mesma descendo as escadas e então me lembrei quem ela era
-Ela é da sua turma?-o homem a perguntou me apontando e a vi me olhar
-Você é a tal Ke... alguma coisa né?-disse ela me encarando e se sentando ao lado do homem no sofá
-Sim, Kemilly-disse um pouco envergonhada, me lembrando dela
-Então deve ser por isso que te reconheci-ela disse meio obvio abraçando o homem no sofá
-Que legal, fico feliz em saber que tenho alguem pra vigiar essa moça na faculdade agora-ele disse rindo e ela o olhou revirando os olhos
-Não começa, já disse que não sou criança, que coisa chata aff's-ela se desgrudava dele
-Liga não Kemy, a Nick é assim mesmo, uma hora vem me abraçar e depois me xinga-ele disse rindo e olhando pra ela que fingia nem ouvir
-Tudo bem-disse sorrindo amarelo meio desconfortável por estar ali atrapalhando os dois
-Senhor Luan, o bolo e o chocolate quente estão prontos-disse uma senhora aparecendo na sala e eu me assustei com sua aparição repentina e ela me olhar tambem assustada
-Opa, então bora comer-disse o homem se levantando-Cidoca essa daqui é a nossa hospede por hoje, ela é amiga da Nicole-disse me apontando
-Seja bem vinda senhorita-sorriu pra mim e retribui-venham comer, está tudo quentinho

O homem e Nicole foram seguindo a mulher, e pra não ficar sozinha ali tambem os segui, era uma cozinha enorme, com uma mesa enorme, e eu estava morrendo de vergonha de estar ali e os ver sentados á mesa, sendo servidos pela empregada.

-Muié senta aqui, e fica á vontade-ele disse me apontando uma cadeira a sua frente, e ainda envergonhada me sentei, e logo fui servida com um pedaço de bolo e uma xícara enorme de chocolate quente
-Cida tem canela? só gosto de chocolate quente com canela-dizia Nicole
-Tem sim, vou buscar-disse a mulher seguindo para outro comodo

Nicole e o homem comiam devagar, cortando o bolo que estava no pratinho com o garfo, e eu apenas os olhava comer, pois desde pequena comia os bolos que minha mãe fazia com a mão, e receber essa mordomia toda não era de costume, então tinha medo de não saber comer na frente deles.

-Vai comer não moça?-disse a empregada me olhando enquanto colocava canela no copo de Nicole
-Cê num gosta de bolo de fubá?-o homem me perguntou-Cida trás alguma outra coisa pra ela
-Pode deixar-disse a senhora indo sair dali
-Não precisa-disse a fazendo parar
-Tem uns pães de queijo de cedo, a senhorita gosta?-ela me perguntou
-Não precisa mesmo-sorri sem graça
-Então toma o leite pelo menos, cê tomou muita chuva aquela hora-ele dizia todo preocupado
-Eu não queria incomodar-disse já me sentindo constrangida
-Imagina, é incomodo nenhum, se não gosta de bolo de fubá fala o que cê gosta que a Cida faz-ele insistia
-Gosto de bolo de fubá sim, é que não estou com fome-menti, pois na verdade morria de fome, só tinha comido cedo antes de ir pra faculdade
-Deixa ela, se ela não quer comer não come-disse Nicole se manifestando

Senti que o clima ficou estranho ali, e eu quem tinha causado tudo isso, vi Nicole se entreolhar com o homem, e sair da mesa, fiquei mais mal ainda com isso sabendo que os dois estavam assim por minha causa.

-Me desculpa-o disse de cabeça baixa-não precisava ter feito nada disso por mim, já era pra mim estar na minha casa essa hora, não aqui causando tudo isso-respirei ainda de cabeça baixa-olha melhor ir atrás dela e se entenderem, só me explica como sai daqui, que vou dar um jeito de chegar em casa
-Kemy cê não tem culpa de nada-ele disse-depois eu me entendo com a Nicole, ela é bipolar assim mesmo-ele riu-mas olha pra mim-ergui o rosto para o olhar-tem certeza que não ta com fome?-me olhou nos olhos
-Tenho-menti abaixando a cabeça
-Vou ali então falar com a Nicole-disse se levantando da mesa-fique á vontade

Apenas assenti, e fiquei sozinha ali, o cheiro daquele bolo estava me matando, e como vi que estava sozinha finalmente peguei o bolo com a mão e comi, que bolo maravilhoso, e tambem tomei meu chocolate quente, nunca na vida tomei um tão gostoso assim, e me lembrei de meus irmãozinhos, que ás vezes choravam de vontade de tomar um copo de leite puro, o que me fez sentir saudades da minha família, e desejar que eles estivessem ali comigo, comendo daquele bolo e tomando leite quente.

-Fala a verdade pra mim-disse o homem me assustando e se sentando na cadeira ao meu lado-cê tava com vergonha de comer perto da gente?-outra vez me olhava nos olhos, isso realmente era pra me testar e eu não sabia o que dizer
-Não, eu...
-Olha, não precisa ter vergonha-ele riu cortando um pedaço de bolo e o pegando com a mão-eu tambem como com a mão-disse enchendo a boca de bolo-é muito melhor assim-disse de boca cheia e tive que rir
-Falar de boca cheia tambem?
-Ás vezes-disse terminando de mastigar o bolo e rindo-mas precisa ter vergonha não, sua carinha não nega que você ta com fome, então pode comer á vontade

Ainda estava receosa de comer na frente dele, que parecia um homem fino e apenas fez aquilo para me agradar, o vi cortar outro pedaço de bolo e tirar com a mão.

-Toma, esse é pra você-disse me entregando e eu tremi na base-vai fazer essa desfeita comigo?

Acabei não resistindo e peguei o bolo de sua mão e comi, ele deu um sorriso encantador e pegou mais um pedaço para ele, e nessa brincadeira toda quase comemos todo o bolo da forma sozinhos.

-Nossa acho que comi bolo demais-disse ele passando a mão por sua barriga-conta pra ninguem isso, segredo nosso-disse rindo
-Ta bom-tambem ri não entendendo
-Me conte mais sobre você-ele disse-cê disse que veio pra Sampa pra estudar, cê era de onde?
-Eu morava numa cidadezinha do interior, chama Paraíso, é muito pequena e quase sem recursos
-Nunca ouvi falar-disse ele parecendo pensar um pouco-mas cê disse que mora numa pensão, sua família tambem mora aqui ou continuou lá em Paraíso?
-Não, eu vim sozinha pra cá, meus pais e meus irmãos ainda moram em Paraíso
-E como cê veio parar aqui? lá não tinha faculdade?
-Não, a cidade mais próxima que tinha faculdade eu teria que morar fora de lá do mesmo jeito, mas eles davam só 50% da bolsa, ou então não tinham o curso de jornalismo
-Mas cê conseguiu bolsa aqui? nem sabia que a faculdade da Nick tinha isso
-Nem eu sabia, é que minha professora estudou aqui em São Paulo, e ela me ajudou a me inscrever para a prova dessa universidade, eu não estava confiante afinal era muita gente disputando, mas graças a Deus eu consegui passar em primeiro lugar e ganhei bolsa integral de qualquer curso que eu escolhesse
-Nossa que legal, parabéns, cê tem cara de estudiosa
-Obrigada, sempre me dizem isso-disse ajeitando meu óculos no rosto-mas e você?
-Eu, o que tem eu?-perguntou rindo
-O que faz da vida, sei lá-perguntei pra puxar assunto, afinal devia ser algum empresário rico, ou algo do tipo
-Sério que cê ainda não sabe quem eu sou?-perguntou erguendo uma sobrancelha
-Não-disse reparando bem no rosto dele, e não me era totalmente estranho, já devia ter visto na TV
-Nossa muié, fiquei triste agora, meu nome não te lembra ninguem?
-Esqueci qual é seu nome-disse tentando me lembrar
-Luan-disse com cara de triste e me deu dó
-Luan o que?
-Santana, sério que cê num me conhece muié?
-Luan Santana? já ouvi falar, mas não sabia que era você-na verdade já tinha ouvido falar desse Luan Santana, mas não sabia o que fazia
-Menos mal-ele disse rindo aliviado-então cê deve conhecer alguma música minha pelo menos
-Música sua?-então era cantor-pior que não conheço-disse sincera
-Nossa muié, assim cê ta me deixando depressivo, poxa nunca ouviu mesmo?
-Já devo ter ouvido sim, mas não sabia que era você o cantor
-Vamos mudar de assunto, já que não me conhece mesmo

Fiquei conversando um bom tempo com o Luan, e a chuva lá fora só aumentava, até que ouvimos um estrondo de trovão e dei um grito.

-Tem medo de trovão?-ele perguntou rindo
-Não, é que tava distraída e me assustei
-Acho melhor irmos pra sala, gosta de ver filmes ou séries?
-Nem tenho tempo pra isso
-Ta tendo hoje-ele disse rindo

Gostei muito do jeito de Luan, e fiquei assistindo uma série de zumbis junto com ele, mas nem tinha graça pois ele já sabia tudo o que ia acontecer, e me dizia tudo antes de acontecer na cena.

-Que horas são?-perguntei enquanto víamos nem sei qual episódio da série de zumbis
-Falta quinze pras 20:00 h da noite, ta cedo ainda
-Meu Deus, fiquei tempo demais aqui-disse me levantando do sofá-Luan, como faço pra pegar um táxi e chegar na lanchonete que trabalho, eu entro ás 20:00 h e vou chegar atrasada
-Calma Kemy, que lanchonete cê trabalha? eu te levo lá
-É perto da faculdade, fica três quarteirões da faculdade
-Então te levo lá-disse pegando a chave que estava dentro de um potinho em cima de um móvel do centro da sala
-Você ta me ajudando demais hoje, nem sei como retribuir-disse sem graça por não ter nenhuma maneira de o pagar
-Olha pra mim-ele disse me fazendo o olhar nos olhos, e começou a fazer careta me fazendo rir-pronto cê já pagou, agora vamos que amanhã mando a Nicole levar suas coisas
-Não entendi?-o perguntei ainda sem entender
-Não entendeu o que?
-Como eu já te paguei Luan?
-Cê só me complica muié-disse passando a mão na nuca e fiquei sem entender mais ainda

Dessa vez ele insistiu para que eu fosse no banco da frente junto com ele, que acelerou o carro e cheguei 20:02 h em frente a lanchonete.

-Obrigada mesmo Luan, não precisava ter feito nada disso por mim, mas agradeço por ter sido tão gentil comigo
-Não foi nada Kemy-disse sorrindo-a chuva deu uma parada, mas e se na hora que for sair estiver chovendo?
-O ponto de ônibus é aqui perto, então não vou me molhar tanto igual antes
-Tem certeza que vai ficar bem?
-Vou sim, e agora preciso ir, obrigada mais uma vez Luan, que Deus te pague, porque eu jamais poderei pagar
-Amém-disse concordando com a cabeça

Fui descer do carro, e sinto sua mão puxar meu braço, me fazendo estremecer.

-Espera, cê não tem dinheiro pra pagar o ônibus, suas coisas ficaram lá em casa, toma-disse me entregando um pouco de dinheiro
-Não precisa Luan, imagina, eu pego emprestado com alguem daqui do meu serviço e...
-Se você não aceitar, vou sentir como desfeita por tudo o que te fiz hoje

Respirei fundo, e mesmo não precisando daquilo aceitei o dinheiro, pois realmente não tinha um centavo sequer para pagar o ônibus.

-Obrigada mais uma vez Luan, vai com Deus
-Fica com Deus e se cuida-disse sorrindo pra mim e finalmente desci do carro

Ainda meio desnorteada de tudo o que me aconteceu, entrei na lanchonete pois já estava atrasada, e vi Luan finalmente ir embora só depois de ver que eu já havia entrado, com certeza ainda existe gente boa nesse mundo, e Luan mesmo com tudo o que tem me provou ser alguem diferente.

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Olá amores, o que estão achando da fic? quero saber se estão gostando, aceito suas opiniões e criticas, bjoooooooos